quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Memórias De Uma Cadeira de Balanço

A Sra. Miles embalou o pequenino livro em seu colo, ao ver que os olhos cançados da criança ainda estavam atordoados pela insônia.
-Ouviras já, meu pequeno, sobre as histórias das cadeiras a balançar?
-Não, vovó. Conta-me? - Ele respondeu curioso pela história.
Acomodou-se a senhora, que das rugas já cansava, mas a doçura nunca envelhecera. Aliás, era mais doce ainda idosa. Pôs-se a contar a história que, como já sabia ela, iniciava-se com a frase favorita do pequenino:
"Era uma vez uma cadeira de balanço forjada do melhor metal e da melhor madeira branca do reino. Todos a adoravam, para sentar-se nela eram feitas filas; De crianças e idosos e casais que alí queriam sentar; As histórias alí contadas eram tantas, que a cadeira de balanço tornou-se uma contadora de histórias. Pois sabe-se que por lá já se passara de tudo; De romances incuráveis, amantes fugitivos, crianças levadas, brigas e conflitos. Mas a cadeira, por mais que fosse feliz com seu posto, por ser adorada, por ser querida, era sozinha e triste. Além de seus contos e crônicas, começara a escrever sobre sua solidão e sobre seu sofrimento. Sobre seu sonho de querer ser livre."
"Muitos anos foram passando, até que a velha cadeira de balanço foi-se esquecida, deixada de lado. O parque na qual vivia fora cada vez menos visitado. Até que apenas o zelador sobrara de companhia para a cadeira de balanço, pois o parque seria demolido. Ninguém fora no enterro da pobre cadeira de balanço, ninguém nem ao menos lembrara dela no dia de demoli-la. Ouviu-se o ranger de suas correnter - seus últimos suspiros - até que foi-se abaixo."
"Descobriram, alí, uma porção de livros escritos pela pobrezinha, suas fascinantes histórias e seus tormentos. Por pena, talvez, mas principalmente por carinho decidiram publica-los apenas na cidade. 'Memórias De Uma Cadeira De Balanço' vendeu apenas 26 exemplares; Mas todas as 26 pessoas encantaram-se com suas histórias; Isso bastou."
O pequenino já dormia quando a Sra. Miles olhou-o de esguela. Deu-lhe um beijo na testa e o cobriu.
-Boa noite, meu anjo.

Um comentário:

Leonardo disse...

Bonitinho o texto, esses são bem mais palpaveis e alcançaveis que os do outro blog.
Gostei, continue praticando que está melhorando.